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sábado, 5 de novembro de 2011


Abençoado é aquele que entrou em crise de identidade e finalmente percebeu a origem do conflito existencial em si mesmo. Em toda a história humana o homem viveu em crise de identidade e projetou seu conflito existencial no mundo por onde passou, habitou e se adaptou. Hoje, não é diferente dos tempos memoráveis dos grandes conflitos entre povos e raças da antiguidade (romana, grega etc). Nada mudou – nada mesmo! A única coisa que “mudou” foi a tecnologia empregada e o processo sutil de dominação ideológica. Mas, em essência agimos com o mesmo ímpeto e motivação: vencer o outro! O outro (imanente) é o inimigo, o obstáculo, o mal, a besta, a fera, o bárbaro, o ignorante, o adversário e o demônio que deve ser exorcizado. O ser humano detesta e tem medo da solidão cósmica por isso ele precisa de um ponto ou centro externo à sua consciência como referência para a concepção do Eu na relação e revelação com o Outro (transcendente). E se por hipótese o outro deixasse de ser esse ponto ou centro de referência vital de aprendizado objetivo, entraríamos numa crise de identidade existencial. E nesse processo de crise teríamos que criar ou descobrir um outro ponto ou centro interno que substituísse aquela referência que era externa à nossa consciência. Foi o que aconteceu comigo em 1992– crise de identidade e conflito existencial!
Hoje, sinto-me segura em afirmar que todas as crises começam devido à necessidade que temos de conceber o outro como referência identitária na construção das identidades culturais e existenciais que criamos ao longo da vida. Em outras palavras, a identidade tem duas dimensões: a cultural-social e a existencial-ontológica. Enquanto vivenciamos as experiências objetivas das relações do mundo social criamos identidades sociais em função das culturas que nos influenciam e nos garantem a afirmação da existência do Eu social. Mas, por outro lado enquanto vivenciamos os fenômenos subjetivos do mundo pessoal criamos identidades em função do nível de experiência da realidade em que conseguimos penetrar e nos conectar a seus princípios ou energias sutis criadoras. Esta última decorre de um caminho conhecido como AUTOCONHECIMENTO, diferente e complementar do primeiro que é o caminho do CONHECIMENTO.
A palavra crise, no ideograma chinês, significa: risco e oportunidade. O risco porque podemos “perder” ou negar, durante o processo complexo e difícil, a faculdade racional do Eu social – isso nos levaria a loucura! E a oportunidade porque podemos ter um encontro com o Outro (transcendente) em si mesmo. E esse encontro pode ser a coisa mais agradável e feliz de ocorrer a um ser humano, e ao mesmo tempo poder ser a coisa mais terrível também. E nesse estado de consciência teríamos a grande oportunidade de nos confrontarmos e descobrirmos finalmente quem somos nós: seres espirituais habitando corpos materiais. E nesse processo descobrirmos ou revelarmos a nossa identidade cósmica existencial. E assim, o mistério se extinguiria na luz da consciência expandida: iluminação!
Hoje, as crises aumentam os conflitos sociais e existenciais e colocam egos contra egos – e muita gente no hospício também!: soldados contra soldados, professores contra professores, religiosos contra religiosos, políticos contra políticos etc. A cada dia tanques de guerra e ideologias do ego se alinham para o confronto direto no grande conflito humano em decorrência da perda de identidade fundamental do ser: a consciência de si. Marx, percebeu sutilmente e por isso mesmo afirmou: “ Não é a religião que faz o homem, é o homem quem faz a religião. A religião é a consciência de si que o homem perdeu ou não adquiriu ainda...a falta da verdadeira religião é o ópio do povo”. Albert Einstein afirmou também: “...COMO JULGAR UM HOMEM? De acordo com uma única regra determino o autêntico valor de um homem: em que grau e com que finalidade o homem se libertou do seu Eu?”. E Sócrates finalizou apontando o caminho de construção da identidade existencial-ontológica: “Conhece-te a ti mesmo”. O Amor Divino (transcendente) é o reconhecimento da identidade do Eu na sua experiência cósmica consigo mesmo (na linguagem buberiana: Eu-Tu (ou Philo-Sophia)). Infelizmente, a humanidade caminha numa trajetória muito distante dessa façanha: “Amai-vos uns aos outros” – Jesus Cristo.
Nesse contexto, a vida moderna com todas as suas surpresas e catástrofes nos obriga a refletir sobre os fatos e as crises que rondam o modo de viver do homem moderno. Hoje, são tantos os problemas e desafios que os cientistas sociais denominam de mega-crise: poluição, corrupção, desemprego, fome, injustiça e exclusão social, violência, guerra, desmatamento, desertificação e aquecimento global. Existe um clamor mundial pela paz e pelo respeito aos direitos humanos. E por mais paradoxal que pareça quanto mais a ciência avança nas descobertas sobre os mistérios da vida e da natureza, mais e mais nos tornamos carrascos do outro e insensíveis às necessidades alheias. E quanto mais exigimos dignidade e ética, mais nos tornamos incoerentes e divididos em partidos, raças, ideologias, crenças, opiniões, teorias, religiões etc. A intolerância aumenta nas prisões absurdas no Iraque, no extermínio de cidadãos inocentes em diversos países, na guerra sem fim dos traficantes de drogas no Brasil, na violência contra as mulheres, na corporação política imoral dos partidos sem ética, no trabalho escravo de crianças, jovens e adultos, na exploração sexual de meninas-mulheres pobres, na ausência de uma reforma agrária que faça justiça no campo, nos privilégios dos senhores governantes do mundo etc. A conseqüência disso é a hipocrisia de uma classe social que mais discursa do que age a favor de uma solução social, global, digna e justa: muitos com tão pouco, enquanto poucos concentram a riqueza que deveria servir a todos. Assim, 2/3 da humanidade vive na pobreza e na miséria enquanto 1/3 concentra 80% da riqueza mundial. Os países ricos continuam cada vez mais ricos e insensíveis, enquanto os países pobres vivem de esperança e medo de um futuro que cada vez mais se distancia da liberdade e da felicidade desejada ou idealizada. A utopia é uma sombra que acompanha as classes menos favorecidas porque nunca conseguem alcançar o mínimo do sustento que precisam. Assim, vivem a margem exploradas pela ideologia dominante dos discursos enfeitados e da falta de solidariedade das classes privilegiadas do poder político e econômico. Tudo indica, segundo o cantor-compositor Caetano Veloso, que a “grana ergue e destrói coisas belas” (Sampa). O paradoxo é a lei dos homens que habita a alma humana e se esconde em seus valores desvirtuados. A regra é o conflito, a paz é a exceção e também um ideal que sempre é adiado porque o homem sempre inventa um inimigo distante dele mesmo. O outro nunca habita e se identifica no ser, mas permanece intocável nas imagens do mundo inimigo e explorável. E assim, caminhamos inventando o outro distante, perigoso e diferente em nós mesmos, e além disso vivemos dessacralizando a natureza em sua realidade imediata.
Nesse contexto, a crise cresce porque o novo não nasceu e o velho não morreu ainda. Essa transição perigosa nos coloca numa situação grave. A terra é explorada continuamente de forma impiedosa não tendo tempo para recuperar o seu ciclo e ritmo cósmico natural. O homem trabalhador é usado para servir o senhor dos números e dos valores econômicos corporativos. Nesse contexto, o sentido da vida se perde nos apelos do consumo sem limites porque a produção é fantasiada na lógica de uma natureza inesgotável. Mas, a natureza em sua sábia afirmação de princípios e leis cósmicas, responde de forma contundente obrigando o homem a repensar o seu modelo de vida e o seu raciocínio lógico: Tisunami, terremotos, derretimento das calotas polares, aquecimento global, rompimento da camada de ozônio, contaminação da água nos subsolos, gripe aviária, febre aftosa, dengue, AIDS, furacões, tempestades etc. Já passamos da era da incerteza e agora estamos vivendo na era do desequilíbrio ambiental, social e global. E esse desequilíbrio se reflete no espaço social dos conflitos étnicos-ideológicos-religiosos dos homens-bombas e dos soldados torturadores. E a violência ideológica e a catástrofe natural se tornam as notícias mais normais e comuns nos meios de comunicação. Milhares de pessoas morrem por dia devido a insensibilidade do homem egoísta, utilitário e individualista que não consegue perceber a necessidade de trilhar um caminho de realização tanto na companhia de seus semelhantes quanto na harmonia com a natureza.
Então, o que precisa ser feito para alcançarmos o ideal de uma vida digna e feliz para todos? Não existe uma resposta, mas um caminho a ser percorrido. E esse caminho, sem dúvida, passa por uma revolução existencial antes de se fazer uma revolução social e política. “É preciso nascer e morrer em vida”, como bem afirmou o mestre Jesus Cristo. Faz-se necessário, que “haja renúncia e restrição para todos”, como bem afirmou Albert Einstein. É preciso “plantar no deserto”, como bem afirmou D. Hélder Câmara. Faz-se necessário, “casar com a pobreza” como bem afirmou São Francisco de Assis.
Pois, é na terra que o trigo nasce. É com trabalho que se planta o trigo. O homem retira na colheita do trigo tanto o trabalho “plantado” quanto a incansável transformação da natureza. O pão é o trigo colhido, a fé plantada e o trabalho processado. A terra é o lugar do suor, da riqueza natural e da bondade Divina. A mesa é o lugar de celebração da fé, da oração do pão e da gratuidade da natureza. A divisão do pão é um momento de comunhão entre seres que se vêem como parte de uma irmandade Cósmica Divina. O trabalho é a ligação da esperança humana com a gratuidade Divina representada pela produção da natureza. O valor do trabalho é a oportunidade da realização humana na interação do homem com a natureza. Uma interação visando o bem na economia de vidas e sacrifícios. Um bem que diminui a fome e aumenta a confiança de um futuro certo e farto. Ao se debruçar sobre a terra o homem planta a sua fé na mãe natureza. Ao comer o pão o homem recebe a dádiva da natureza e confirma a graça Divina. A vida é a resposta positiva da relação entre duas naturezas que se encontram para uma consagração. Uma natureza planta e colhe a essência do pão que é o trigo. A outra produz a fé que é a essência da própria natureza. O trabalho é a ponte entre a terra, o pão e o céu. E entre a fé, o homem e o trigo colhido. O ato de trabalhar representa o poder de transformação da criação e realização. A realização entre o princípio da vida e o fim de uma transformação da natureza em direção a um crescimento na “morte”- numa “morte” que consagra a vida. O trigo “morre” na produção do pão. O pão “morre” no consumo do homem. E o homem “morre” na entrega de si mesmo para o Criador (do trigo, do pão e do homem). A terra em sua incansável jornada de transformação anima a vida. Ela dá força impulsionando o existir. Ela é uma fonte de energia; uma fonte que alimenta a força do ato de trabalhar. Ela é um princípio e um fim da produção de energia. A ela o corpo humano voltará no final. A ela todos os animais retornarão cansados e gastos em suas energias.
Assim sendo, um esforço coletivo no sentido da paz e da harmonia deve ser o norte e marco para que possamos atravessar o rio da vida sem os perigos das ondas perigosas que rondam o barco da vida. Em outras palavras, precisamos urgentemente da verdadeira cooperação e da solidariedade em todos os ambientes e momentos onde se processa a dinâmica da vida criadora e transformadora. E para que esse objetivo seja alcançado a educação é primordial. Uma educação que contemple tanto as técnicas da ciência quanto os valores nobres das religiões tradicionais. Isso implica dizer que devemos reformular os nossos conhecimentos sobre a vida em geral incorporando a prática de valores greco-cristãos. Uma nova ética deve nascer que venha substituir a ética moderna utilitarista dos dias de hoje. Pois, a ética é o alicerce, a base que sustenta a existência humana em todo o seu percurso histórico. Por isso, Cristo afirmou sabiamente: “Aquele que não seguir os Meus mandamentos [éticos], será o mesmo que construir uma casa sobre a areia...pois quando vier o vento e a tempestade ela desabará. E aquele que seguir os Meus mandamentos construirá sua casa sobre uma rocha...e mesmo que venha o vento e a tempestade, ela não desabará”.
O mundo moderno carece de uma base ética cósmica universal. A ciência e a religião pouco poderão fazer se não houver um fundamento ético cósmico que sustente a visão de mundo desse homem utilitário e insensível. E daí a importância de se produzir autoconhecimento na busca incessante de atender ao chamado sagrado para se compartilhar o pão da vida e a interpretar a lei do Espírito. A política, dos dias de hoje, carece dessa conduta nobre e ética. O que vemos é uma classe política que está mais preocupada em seguir as regras e os mandamentos ideológicos dos seus partidos políticos do que de fato compreender a razão que motiva os homens a competirem e a lutarem entre si.
O mundo moderno vive atualmente a euforia do progresso da produção acelerada e do consumo material descartável. Mas, uma análise mais cuidadosa nos mostrará que existe um limite natural que é o esgotamento da energia primária (petróleo, álcool, força da água, carvão etc.), devido principalmente ao esgotamento dos recursos naturais do planeta. Pois, 1/3 do planeta está em processo de desertificação, outro terço está cultivado e o terceiro terço em vias de ser cultivado. Assim, partindo dessa premissa e levando em consideração que do século XIX (1800) para cá a população mundial foi multiplicada por seis vezes (de 1 bilhão para 6 bilhões de indivíduos!), podemos inferir que os recursos naturais estão diminuindo enquanto a população mundial está aumentando.
A qualidade de vida para todos depende de um pacto global partindo de uma conduta ecológica e humanista onde os ricos cedam para que os pobres possam usufruir do mínimo necessário. E além disso, os pobres não poderão desejar os níveis de consumo dos ricos, pois como já foi visto anteriormente a própria terra é o limite da expansão do consumo e produção igual para todos. Isto porque, se adotarmos o modelo norte-americano de produção e consumo precisaríamos, segundo os especialistas, de duas terras e meia para satisfazer a necessidade de todos. Por isso, uma política pública, participativa e inteligente deve nortear as ações do poder público. O povo não pode mais continuar alienado cedendo aos caprichos dos políticos quando votam neles acreditando em promessas ou em troca de dinheiro ou favores pessoais. O erro está na participação inconsciente, sem crítica filosófica, de uma sociedade que busca resolver suas questões participando de uma prática política danosa e anti-ética.
Nesse sentido, a questão social deve transcender a dicotomia: capitalismo x socialismo. Ela precisará se basear em parâmetros éticos e humanistas. A educação de qualidade para todos é fundamental – em todos os níveis básico, fundamental, médio e superior! - onde deve-se buscar uma formação sólida e holística no sentido de esclarecer o ser humano sobre o seu papel no mundo, na sociedade em que vive e no cosmo em que existe. Assim, o desafio se torna presente porque viver significa também ir além do estabelecido, do conhecido, do vivido e do percebido. Isso implica dizer, que cada um deve descobrir a sua missão e o seu dom respeitando os limites da vida e percebendo que não veio ao mundo por acaso mas para construir com exemplo de vida uma história, um sentido sagrado para a existência humana.
A fé, o desenvolvimento da sensibilidade e o exercício da força de vontade, sinto que, são princípios humanos básicos nos quais a natureza humana deve se apoiar para superar os seus limites e assim descobrir o poder de realização pessoal que se refletirá, sem dúvida, numa verdadeira e profunda revolução social. A crise pela qual todos nós estamos passando é fruto de uma profunda crise de percepção e de identidade existencial. O homem tem o dever de evoluir porque é uma lei cósmica universal. E para tanto, faz-se necessário usar todo o seu talento, fé, inteligência e sensibilidade. Nesse sentido, discordo com a teoria de que o homem é um animal social. Somos seres sensíveis, relacionais e transcendentais! E é por causa disso, que uma nuvem encobre a consciência humana não permitindo que ela veja a sua verdadeira dimensão e trajetória espiritual.
Trabalhar é necessário, mas amar é imprescindível. Mas, o Amor é um fenômeno transcendental desconhecido por muitos ainda porque estamos hipnotizados, alienados e orientados para seguir um processo de construção de uma realidade que oscila entre o desejo de consumir e a liberdade de produzir objetos e idéias. Por isso, não basta apenas trabalhar e ganhar dinheiro, faz-se necessário saber trabalhar e produzir a paz, a felicidade e a liberdade do ser no próprio ser, em si mesmo!

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